Software Livre na geral

21 junho 2007

Cultura Hacker - Tenha Ética e Ganharás Respeito

Com a evolução da informática e a solidificação dos sistemas de informação na comunidade um personagem passa a ter maior visibilidade em nossa comunidade ocupando um espaço no palco principal. Os hackers, ou erroneamente conhecidos como Piratas da Rede, vem tendo sua imagem atrelada à cibercriminosos com conhecimentos avançados sobre as tecnologias de redes e computação, aproveitando-se justamente das redes de comunicação para a pratica de delitos das mais diversas formas causando danos à terceiros de todos os níveis com o objetivo de simplesmente destruir dados e informações ou mesmo enriquecer com práticas classificadas como estelionato.

É comum deparar-se na mídia com este termo sendo usado num sentido bastante pejorativo, conotando indissociável relação com o crime e a ilegalidade. Seja nos filmes de Hollywood ou no jornal cotidiano, jovens com grande conhecimento aplicado à fins benignos são apontados como hackers, quando na verdade o termo que ali melhor se encaixaria seria cracker. Surge um novo personagem, este sim usando o conhecimento livre para fins não legais. Mas se assim o é, então o que é um hacker?

O finlandês Pekka Himanen, doutorado aos 20 anos em Filosofia na Universidade de Helsínquia, lançou um livro chamado A Ética Hacker e o Espírito da Era da Informação. Segundo ele, hacker é uma pessoa que tem uma paixão por tecnologia e desenvolve ou programa prazerosamente acreditando na filosofia do Software Livre, ou seja que compartilhar informação é um poderoso bem concreto e que seja um dever moral compartilhar a sua perícia facilitando o acesso à informação e a recursos computacionais onde for possível. Explica também que tal termo na verdade é um referente para o Hacker utilizado no início dos anos 60 que nasceu com programadores do MIT - Instituto Tecnológico de Massachusetts, onde a designação é um título nobre para os aficcionados pelo mundo da computação que passavam horas diante da máquina por puro prazer e curiosidade. Segundo Pekka, a origem deste equívoco remontaria a meados dos anos 80, quando surgiram os primeiros crimes computacionais, e a mídia, não sabendo como designar tais criminosos, aplicou o termo de forma um tanto infeliz.

Podemos tirar como exemplos de grandes hackers Richard Stallman e Linus Torvalds que foram alguns dos grandes responsáveis pelos fundamentos da Sociedade da Informação, principalmente no quesito de Software Livre, nos últimos 30 anos. Ou seja, a ética hacker está diretamente ligada à Inclusão Digital, pois hackers são os apaixonados que não medem esforços em empregar tempo e esforço para desenvolver formas de tornar, no caso, a Sociedade da Informação mais abrangente em fundamentos e ao mesmo tempo disponibilizar acesso aos mais variados tipos de usuários.

Seguindo esta linha de pensamento, os hackers já não são mais os vilões da história, mas sim os mocinhos pois ao analisar-mos alguns dos símbolos mais conhecidos dos tempos atuais como a internet, o computador pessoal e softwares como o sistema operacional Linux, veremos que foram criados por entusiastas trabalhando sileciosamente ou com ajuda de uma comunidade de forma a tentar quebrar padrões trazendo esta gama de evolução que temos hoje trabalhando em um ritmo livre. Sem eles o mundo da informática não seria como o temos hoje por exemplo.

Na visão de um hacker, o sentido da vida esta baseado em uma paixão. Esta paixão sendo uma coisa prazerosa, significativa ou inspiradora para o indivíduo, sendo isto chamado de trabalho ou puramente diversão. Mas quando afirmo que o hacker vive de uma paixão, não significa que sua vida seja apenas alegria e felicidade, pois muitas vezes empreende trabalho duro e tédio, porém o mesmo se compromete a fazê-lo tendo em vista o conjunto em si e o resultado que ele conseguirá propiciar a partir daquilo podendo beneficiar toda uma comunidade ou até mesmo a sociedade em geral, ou seja, ele investe esse tempo e esforço visando um bem maior. Mais prazeroso é a perda de tempo com um tédio que envolve uma paixão do que um tédio que envolve uma obrigação ou um trabalho desagradável permanente não é mesmo?!

Mesmo vivendo num mundo atual onde o capitalismo se estabilizou de forma selvagem, para um hacker o dinheiro não é um bem primordial, sendo um quesito secundário para sua sobrevivência. O dinheiro nunca foi e nunca será objetivo de vida ou meta de trabalho de um hacker, tendo que o mesmo se beneficia ou parece satisfazer-se mais em ver que pôde de alguma forma contribuir para um outro indivíduo ou até mesmo uma comunidade.

Não importando raça, credo ou nacionalidade, os hackers, em geral, são unidos em um objetivo em comum, provavelmente por meio da internet, que é fazer coisas que acham interessantes e construtivas, nos lembrando então um pouco do movimento hippie dos anos 60.

Ainda nos dias de hoje existem cada vez mais pessoas, curiosas, que investem boa parte de sua vida fuçando códigos e sistemas, muitas vezes sem permissões, à nível de estudo e análise prévia, caindo no famoso lema: “Nosso crime é a curiosidade”. Porém, esta onda de curiosidade, ligada à esta má interpretação que tem sido feita durante décadas acerca do termo hacker, fez com que alguns deles debatessem a respeito e então percebendo que não se pode ter muito controle sobre a evolução da língua, o termo que alguns passaram a adotar foi o “geek”, perdendo então boa parte do significado que a palavra hacker realmente trazia consigo, porém por outro lado também não traz a contaminação que vinha sofrendo estas décadas.

Alguns aceitam este novo termo, outros, onde eu me encaixo, preferem bater de frente e insistir na fortificação da ideologia hacker, mostrando o verdadeiro sentido do termo e tornando-o claro e conhecido por todos, para que algum dia quem sabe, os hackers sejam tratados com o devido respeito que merecem.

Kalib - Marcelo Cavalcante Rocha

19 junho 2007

Ter computador é o suficiente para Inclusão Digital?

Tal pergunta, que por muitos já foi usada como uma afirmação, nos faz refletir sobre o verdadeiro sentido do termo Inclusão Digital.

Inclusão Digital não é apenas algo como matar a sede ou a fome de uma pessoa carente financeiramente, mas engloba toda uma cultura e filosofia por trás do ato de incluir alguém neste seguimento que é o mundo da tecnologia. É fácil fazer um ato filantrópico que aborde a fome de uma creche por exemplo, pois este ato resumiria-se a doações de alimentos, porém lhes pergunto se seria o mesmo com a Inclusão Digital, bastando apenas dar um computador para quem não possui um.

Em meu ver o termo vai além do ato de dar à quem não tem, afinal de contas de que adianta dar sem lhes apresentar o que é a Tecnologia, como utilizá-la e como fazer dela um meio de interação com a sociedade?

A inclusão Digital é então tudo aquilo o que se compreende por tornar parte integrante da sociedade que gira em torno da tecnologia uma pessoa ou uma comunidade por inteiro. O ato de alfabetizar alguém no mundo da informática apresentando-lhe ferramentas úteis para facilitar suas tarefas diárias e informatizá-las tornando-as mais rápidas, eficientes e seguras.

O mercado de trabalho torna-se mais exigente a cada dia, trazendo nos dias atuas por padrão a exigência de conhecimentos básicos de informática, o que muitas vezes acaba por tornar-se uma porta fechada para grande parte da população de baixa renda e que não possui contato com este tipo de tecnologia. E é justamente este o público que mais deve ser focado em ações de Inclusão Digital, tais ações que felizmente vem crescendo e aparecendo cada vez mais.

Exemplos constantes de Inclusão Digital são projetos de comunidades regionais que se empenham em organizar eventos que visam a apresentação de tecnologias assim como palestras e mini-cursos voltados para todos os tipos de público que se mostrem interessados em aprender de forma gratuita e de qualidade.

Eu não poderia deixar de citar por exemplo a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, Fortaleza - CE, onde existe o Centro Digital do Ceará, modernamente equipado com 16 computadores IBM ligados à internet. Utiliza o sistema livre Linux, facilitando e incentivando o uso do correio eletrônico, além das pesquisas através do uso de bases referenciais e textuais disponíveis na rede. Tal projeto utiliza-se da tecnologia Multi-Head, o que traz uma grande economia em termos de Hardware e gastos já que baseia-se no uso de uma CPU para mais de um monitor, teclado e mouse, ou seja, no caso da Biblioteca 1 CPU para 4 usuários ao mesmo tempo.

Existe também, um projeto desenvolvido na Associação Cultural Cearense do Rock (ACR) por comunidades de software livre do Ceará, onde utiliza-se máquinas mais antigas, sem perder o desempenho, ou seja, utilizando somente 1 computador relativamente potente como servidor, podemos prover acesso à internet por exemplo para um pátio contendo 16 máquinas mais antigas e ainda assim ter um ótimo aproveitamento dos recursos computacionais. O maior atrativo do projeto é o fato de ter essa estrutura montada sem os típicos gastos com licença de Softwares devido ao uso dos chamados Softwares Livres.

Não é nenhuma novidade nos dias de hoje encontrar pelas Universidades panfletos e cartazes divulgando algum evento voltado à Inclusão Digital com palestras e oficinas de capacitação abertos à sociedade com a devida qualidade necessária para voltar estas pessoas ao duro e cada vez mais exigente mercado de trabalho.

Por fim a Inclusão Digital é mais que dar acesso, mas sim alfabetizar as pessoas sobre como fazer proveito deste acesso de forma a fazê-las presentes dentro desta sociedade.

Kalib - Marcelo Cavalcante Rocha